11/09/2011

E DEPOIS ISTO

Um delirium tremens, o sublime estático
e visível, o espaço cada vez maior
entre as paredes, a escrita do mundo,
o sólido ar crescendo, o diferente azul
da noite, um pulso iluminado, uma quarta-feira
iridescente, a porta por onde se torna
a passar, uma venda onde os olhos
transbordam, um veleiro imprevisto,
a contagem decrescente do fôlego, a proximidade
em saltos sucessivos, um fino crepúsculo,
a neve que no corpo principia,

01/09/2011

OS AMANTES DE POMPEIA

Não se olham sequer. Ali tudo se passou
há muito tempo. Ele ainda a procura? A noite
desce sobre estes corpos e assim continua
para sempre. Aquilo que podiam dizer é apenas
o silêncio. Ficam juntos não para serem um do outro,
mas nossos. A cinza recebeu esta nudez
que lhes era anterior. Devagar só nós a recolhemos
sem que o tenham sabido. Por isso, estão sozinhos
agora que os vemos e neles nos encontramos.

Fernando Guimarães
               
                           As Raízes Diferentes, Relógio D'Água Editores, Lisboa, Junho de 2011